

Esse era um “mote filosófico” muito usado pelo pacato professor Hercules Maymone, da UFMS, acostumado a desbaratar os entraves da vida. Já o deputado federal Tiririca, um dos mais ínclitos representantes do povo no Congresso Nacional, tem opinião diferente e afirma que “Pior do que está, não pode ficar”.

O palhaço e deputado Tiririca
Aos que acompanham o desenrolar da crise político-econômica brasileira, sintam-se a vontade para concordar com essas “inquestionáveis verdades”, segundo suas crenças e descrenças.
Entretanto, os que viveram os anos 70 e 80 do século ado conhecem as dolorosas consequências de se ter políticos incompetentes e irresponsáveis no comando. A cada momento o cidadão pagador de impostos esbarra com indicadores preocupantes: inflação alta, desemprego crescente, juros estratosféricos, política cambial perniciosa, parlamentares chantageando o Executivo, educação e saúde paradas. Enquanto isso, a estratégia governamental adotada resume-se em tudo para os políticos e nada para o povo.
É o caos lançado em um fosso que se alarga e se aprofunda impulsionado pelos próprios governantes que sabem (e acreditam) que o povo tem memória curta e a reeleição está garantida pelos cofres públicos.
Na lista de investigados pela Procuradoria-Geral da República na operação Lava Jato, constam 13 senadores e 22 deputados federais, por enquanto.

Políticos investigados na Lava Jato
Todos alegam inocência e perseguição política desencadeada por “forças ocultas” alojadas no Planalto. As buscas da Polícia Federal nas casas de quatro desses congressistas, incluindo o ex-presidente Fernando Collor de Mello, provocaram protestos veementes de Renan Calheiros, presidente do Senado, e de Eduardo Cunha, presidente da Câmara.
Collor, da tribuna do Senado, como se estivesse nos jardins da “Casa da Dinda”, chamou o Procurador-Geral de “filho da puta”.

Fernando Collor
Suas Excelências, todas, se calaram e concordaram com as palavras do representante das Alagoas. E, pelo silencio ouvido, esse palavreado é condizente com a ética comportamental da Casa. A Comissão de Ética aguarda. O Ministério da Educação da “Pátria Educadora” também aguarda.
A política do “anda e para”, o “go and stop” dos gringos, é o ritmo do neoliberalismo brasileiro nos últimos 20 anos. A diferença entre os gringos e os brasileiros está na velocidade do retorno após cada parada: eles, identificado o problema, desencadeiam providências para quebrar a inércia operacional, e nós prolongamos as paradas enquanto o governo aumenta os juros e os impostos.
Dilma Rousseff e sua equipe, se é que existe uma equipe, tentam retornar à ortodoxia utilizada na crise de 2003.

Dilma e ministros
Para tanto, aumentaram a taxa Selic, fizeram cortes orçamentários em áreas básicas como educação e saúde, mas também aumentaram a despesa com o Bolsa Família, com o Fundo Partidário e com alguns subsídios. Apesar do contingenciamento orçamentário de aproximadamente R$ 80 bilhões (até agora) o Tesouro registrou um déficit de R$ 9,8 bilhões no primeiro semestre (antes dos desembolsos com juros).
O povo percebe que esse arrocho orçamentário é fictício e não surtirá os efeitos apregoados pelo ministro Joaquim Levy, porta-voz dos banqueiros na estrutura governamental. A causa do fracasso previsto é devido ao desequilíbrio estrutural entre receitas (em queda livre devido à recessão econômica que se aprofunda) e despesas públicas (em elevação permanente devido às pressões dos congressistas).
Para acalmar os políticos da “base aliada”, a Presidente prometeu liberar R$ 4,9 bilhões em emendas parlamentares até dezembro. Simultaneamente, a mandatária maior convoca os governadores e os prefeitos para que os Estados e municípios participem do sacrifício reduzindo despesas. Para consolo de todos, afirmou que o crédito voltará a ser abundante e que está preparando o país para um novo ciclo de expansão econômica. Aproveitou a oportunidade para pedir o apoio de todos para a aprovação da reforma do ICMS que unificaria a alíquota em 4%.
O mensalão e o petrolão fizeram estragos na credibilidade dos políticos, mas os escândalos não ficarão por aí. Depois vieram as “elétricas”, dando choques para todos os lados.

I do BNDES, mar de lama.
Agora é a vez da I do BNDES, nitroglicerina (substância usada na fabricação de dinamite) pura, apesar de todos dizerem que a I dos Fundos de Pensão é a mais explosiva.
Entretanto, Marcos Rotta (PMDB), presidente da I do BNDES, acalmou os políticos de todos os partidos dizendo que há “dificuldade para iniciar os trabalhos” da comissão, sinalizando que não vai dar em nada, tal como na I da Petrobras. Essa é a dinâmica do parlamento nacional.
Em 2009 o ministro Guido Mantega, cumprindo ordens do Planalto, aumentou o programa de crédito barato para um grupo de empresas privilegiadas. O volume de empréstimos subsidiados, desde então, saltou de R$ 40 bilhões para R$ 455 bilhões, com recursos reados pelo Tesouro.
O governo capta dinheiro no mercado financeiro tendo como referência a taxa Selic, e rea ao BNDES. O Banco empresta às empresas tendo por base a taxa de juros de longo prazo, bem inferior ao custo médio com que o Tesouro se financia. A dívida pública aumentou substancialmente devido a esses procedimentos. O total de recursos reados pelo Tesouro é de R$ 455,5 bilhões e o custo total dos subsídios concedidos pelo Tesouro ao BNDES é de R$ 184,3 bilhões.
Essa sangria financeira permanecerá pelos próximos 40 anos. Só com a Odebrecht, o Banco fechou 539 contratos para financiar obras de engenharia no exterior - US$ 12,5 bilhões com 412 obras em países da América Latina e África. Coisa nunca vista antes na “pátria educadora”
A inflação, o desemprego e a taxa de juros crescem, a Câmara aprova medidas desestabilizadoras e a bancada peemedebista do Senado criou um “pacote anticrise”, com 43 tópicos objetivando reduzir despesas na área social e reequilibrar o orçamento, como se isso fosse possível.

Levy, Renan e senadores
A Agenda Brasil foi moldada em uma reunião de Renan Calheiros, 35 senadores, Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento). Entretanto, esqueceram que tais procedimentos ainda dependem da Câmara, e Eduardo Cunha jogou um balde de água fria na euforia de Dilma e Renan dizendo que “Até agora, nós vimos apenas um jogo de espuma sem conteúdo concreto, utilizando parte da espuma que veio da própria Câmara dos Deputados”.
Dilma, pomposamente, vetou o projeto de lei que concedia um aumento salarial variando de 53% a 78,5% para os servidores do Judiciário, em greve desde junho. Entretanto, nos bastidores, acertou com Ricardo Lewandowski, presidente do STF, um aumento de 41,47%. Os ministros receberão um aumento de “apenas” 16,38%, ando a receber a bagatela de R$ 39.293,38 mensal. O impacto financeiro anual será de R$ 25 bilhões, nos próximos quatro anos.
Como se tudo isso não fosse suficiente, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou o Brasil para o último degrau antes de perder o grau de investimento. Considere-se ainda que Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Romero Jucá e Jader Barbalho não são aliados confiáveis em época de crise. As bravatas da Presidente e o sorriso irônico do vice-presidente não ajudam.
Em Mato Grosso do Sul, complementando o panorama nacional, explodiu a “lama asfáltica e o alvorecer”.

Lama Asfáltica,
Está difícil encontrar alguma Excelência que não tenha sido respingada. Mas é em Campo Grande que os políticos, representados pelos vereadores e prefeito, demonstram o desprezo pelo dinheiro público, pela justiça e pela opinião dos eleitores. É um grande espetáculo de ironia e hipocrisia. A situação é tão degradante que só o sábio e honestíssimo senador Fernando Collor de Mello seria capaz de expressar o que os campo-grandenses pensam a respeito de seus representantes locais.
LANDES PEREIRA. Economista com mestrado e doutorado. É professor de Economia Política.
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Landes Pereira
Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor istrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.